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Papoila - Onde nascem o remédio e a droga

Cientificamente conhecida por «Papaver Somniferum», o ópio, extraído da papoila, é considerado a substância mais viciante de todas. Por detrás da flor de Maio, pode estar uma droga cuja história mundial já vai longa...


O ópio é produzido a partir da resina extraída da cápsula da semente da papoila. Esta planta, que dá uma flor branca, por vezes raiada de vermelho, ou de cor completamente encarnada, pertence à categoria dos opiáceos e teve a sua origem na Ásia.

Mais tarde passou a ser cultivada na Turquia, Índia, China, Líbano, Grécia, antiga Jugoslávia e Bulgária, onde de resto se localiza o famoso Triângulo Dourado. Estudos efetuados em achados arqueológicos mostram-nos que 3200 a 2600 anos a.C. a papoila Papaver já era cultivada por vários povos. Outros documentos mencionam que o seu cultivo data de III A.C.

Inicialmente a Papaver era exclusivamente usada com fins medicinais, tendo sido considerada como o medicamento mágico da época. Porém, foi em finais da Idade Média e no Renascimento que esta substância atingiu maior prestígio devido à ação dos senhores nobres de Veneza, que detinham o seu monopólio. Paracelsus introduziu-a na Europa entre os anos 1493/1541, mas só no século VII é que passou a ser conhecida no Oriente como um produto mágico oriundo do Ocidente.

Na china, devido às grandes importações feitas a partir de Inglaterra (na altura, a grande controladora das plantações da Papaver), esta expansão adquiriu características epidémicas às quais mais tarde se iria opôr, gerando nessa altura as chamadas guerras do Ópio e consequentemente um aumento dos lucros para o mercado desta substância (finais do século XIX).


* Obter Ópio

Ópio deriva do grego «ôpion», que significa sumo de uma planta. Em latim conhecida como Opium «Opiatum Ipistus». Obtêm-se através de uma incisão na cápsula da papoila, de onde sai um líquido de aspeto leitoso que, ao solidificar, resulta numa pasta acastanhada que depois de fervida se transforma em ópio. Processamentos posteriores resultam em morfina, codeína, heroína e outros opiáceos. Para um quilo e meio de ópio são necessárias cerca de 3000 plantas.


* Efeitos

Para os verdadeiros adictos a drogas o ópio é inalado, já que em contato direto com o fogo o ópio perde algumas das propriedades narcóticas. Esta droga pode ser comida, consumida como chá ou, em forma de comprimidos, dissolvida sob a língua. Uma dose moderada faz com que o doente mergulhe num relaxado e tranquilo mundo de sonhos fantásticos. O efeito dura de quatro a seis horas, período em que um indivíduo se sente libertado das ansiedades do dia-a-dia, ao mesmo tempo que o seu discernimento e a sua coordenação permanecem inalterados.

Nas primeiras experiências, a droga provoca náuseas, vómitos, ansiedade, vertigens e falta de ar, sintomas que desaparecem à medida que o doente faz uso regular da droga. O consumidor frequente torna-se passivo e apático, os seus membros parecem mais pesados e a sua mente envolve-se em profunda letargia. Os opiáceos atuam sobre receptores cerebrais específicos localizados no sistema localizado na massa encefálica, na espinal medula e em algumas estruturas periféricas. Têm uma potente ação analgésica e depressora sobre o sistema nervoso.

Durante as 4 a 6 horas que se seguem ao consumo, os efeitos do ópio podem ir desde o alívio da dor e da ansiedade, diminuição do sentimento de desconfiança, euforia, felicidade, sensação de bem-estar, tranquilidade, letargia, sonolência, depressão, impotência e incapacidade de concentração. Estes efeitos podem ser acompanhados de depressão do ciclo respiratório (causa de morte por overdose), edema pulmonar, baixa de temperatura, náuseas, vómitos, contração da pupila, desaparecimento do reflexo da tosse, obstipação, amenorreia, podendo mesmo provocar a morte. A longo prazo, o ópio pode diminuir a capacidade de trabalho, provocar enfraquecimento físico e diminuir o desejo sexual.


Como se consome?

A forma mais habitual de consumir ópio é fumá-lo, mas pode também ser bebido, comido ou injetado. Como fármaco apresenta-se sob a forma de tubos pequenos, pó ou até pequeninas bolas já preparadas para consumo. No entanto, no mercado ilegal, o ópio é vendido em barras ou reduzido a pó e embalado em cápsulas ou comprimidos.

O nível de tolerância e dependência

A dependência e a tolerância tanto física como psicológica são enormes. O ópio, bem como os seus derivados, provoca dependência no organismo, que passa a necessitar de doses cada vez maiores para se sentir normal. O aumento da dosagem leva ao sono e à redução da respiração e da pressão sanguínea, podendo evoluir, em caso de overdose, para náusea, vómito, contração das pupilas e sonolência incontrolada, passando à coma e morte por falha respiratória. A overdose pode ser causada não apenas por um aumento da dosagem de ópio, mas também pela mistura da droga com álcool e barbitúricos. Como o ópio causa grave dependência, o consumidor habitual pode morrer por síndrome de abstinência, caso o uso da substância seja suspenso bruptamente.

Perigosa dependência

Os especialistas afirmam que a inalação casual da droga dificilmente se torna um vício, embora seja desconhecido o ponto exato em que a pessoa se torna dependente de ópio. Uma vez viciado e dependente, o indivíduo deixa de sentir as sensações originalmente produzidas pela droga, passando a consumir ópio ou seus derivados simplesmente para escapar aos terríveis sintomas da síndrome de abstinência, que duram de um a dez dias e incluem arrepios, tremores, diarreias, crises de choro, transpiração, vómitos, cólicas abdominais e musculares, perda de apetite e insónias. Recentes pesquisas indicam-nos que os opiáceos podem provocar mudanças bioquímicas permanentes a nível molecular, fazendo com que um ex-viciado se mantenha predisposto a retornar ao vício, mesmo após anos de privação do uso de apiáceos.
Alguma vez tinha pensado que, por detrás da aparentemente inocente flor que enfeita os campos de Maio, se esconde tão poderoso e polémico produto?...


As investigações científicas

Várias investigações foram efetuadas no campo da ciência, e no século XIX começaram a ser isoladas as substâncias componentes do ópio. No ano de 1806 foi isolada a marfina, seguida da cadeína em 1832 e da papaverina em 1848.

Na medicina estas substâncias acabaram por substituir o ópio, sendo utilizadas como analgésicos e anti-diarreicos. Considerada como uma substância de alto valor terapêutico, depressa  se transformou numa substância utilizada de forma abusiva. Assim estavam criadas as condições para que a morfina se tornasse um dos medicamentos mais importantes para combater o vício do ópio. Também nos Estados Unidos se viu crescer de forma assustadora o uso de opiáceos, dado o aumento de imigrantes chineses nesse país, e também devido à sua administração intravenosa aos feridos durante a guerra civil. Mas, ao verem um crescimento tão drástico, os Estados Unidos, já no final do século XIX, começaram a  tentar controlar o uso do ópio, tentando mesmo a sua proibição. Um bispo americano de nome Charles Henry Brent levou a cabo uma campanha moralista contra o ópio e a opiomania, tendo tido grande aceitação entre o povo.

Também a China levou a efeito campanhas antiópio, as quais não foram vistas com bons olhos pela Inglaterra e pela Holanda, já que estes dois países eram já os principais beneficiários dos lucros deste comércio. Em 1909, a pressão americana fez com que representantes de países com colónias no Oriente e na Pérsia se reunissem em Xangai na Conferência Internacional do Ópio, presidida pelo Bispo Brent, à qual se seguiu a de Haia em 1911. Realizou-se a primeira Convenção Internacional do Ópio em 1912. Nessa reunião, os países signatários criaram um compromisso de controle de medidas no comércio do ópio dentro dos seus próprios sistemas legais.

 Em 1914 realizou-se uma outra convenção, a partir da qual os Estados Unidos criaram a Lei dos Narcóticos de Harrison, a qual não só controlava o comércio, como também tornava ilegal a posse do ópio por parte de pessoas que não estivessem devidamente autorizadas a usá-lo.
Sabemos que foram descobertas algumas plantações no nosso país nas zonas do Alentejo e do Algarve, tendo sido de imediato destruídas.


A droga que foi motivo de guerra

O ópio é a única droga que foi um motivo declarado para início de uma guerra. No século XVII, a British East India Company produzia ópio na Índia e vendia esta substância em quantidades abismais para a China.

Em 1800, o Imperador Ch´ung Ch´en proibiu o consumo desta droga, a qual já se alastrava pelo território chinês como uma verdadeira epidemia. No entanto, o contrabando prosseguiu, e em 1831 a venda de ópio em Cantão atingiu o equivalente a 11 milhões de dólares, enquanto o comércio oficial deste porto chinês não passou dos sete milhões de dólares.

A insistência do governo chinês em reprimir o uso e a venda da droga levou o país a um conflito com a Inglaterra, conhecido como a Guerra do Ópio. Esta guerra começou em Março de 1839, durou quase três anos e terminou com a vitória dos ingleses, que obrigaram a China a libertar a importação da droga e a pagar indemnizações pelo ópio confiscado e destruído durante esses anos.

Além disso a China foi obrigada a ceder Hong Kong aos Ingleses. Como resultado desta cedência e de outras facilidades, dizem as estatísticas que em 1900 metade da população adulta masculina da China era viciada em ópio.

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